quinta-feira, agosto 09, 2007

 

Ida de férias

Pensava estar a bordo duma catedral de ondas e velas a deslizar suavemente na Foz do douro.
Majestático, o barco descreve uma curva larga e elegante, em semi-círculo ao largo da praia dos Insurrectos.
Quem por ali passava, parava. Imobilizava-se no tempo. Afinal, não era todos os dias que se podia ver um secretário de Junta de Freguesia a velejar.
Pensava que descendia da mais pura tradição dos barcos do último terço do século XIX, aquele caíque e que possuía a mesma magia que aureolava alguns dos poemas flutuantes primos das caravelas.
Imaginava-se uma verdadeira estrela de cinema a bordo dum iate de luxo e assim pensava poder ir gabar-se mais tarde perante o seu auditório preferido.
Acreditava poder atingir mesmo a imortalidade, a sua beleza barbuda roçando o sublime. É um tipo cheio de preconceitos e pensa que todos os seus movimentos são musicais, a sua existência poética sob um céu cintilante duma quente e mal cheirosa tarde sobre as águas do odoroso Douro onde saltam as fataças.
Sonhava estar a bordo dum veleiro tipo Sagres. Isto e muito mais. Sentia a emoção de quem teve a sorte de subir a bordo e imaginava-se a flutuar nas nuvens, quando tudo o que se passava é apenas comparável a uma certa mulher – a absoluta vendedora de calamidades.
Repentinamente, resolveu regressar ao cais da Afurada ode poderia, na tasca do machado, emborcar mais uns copos para esquecer a sua triste sina. Não passa dum espelho do que pior pode existir no ser humano, o reflexo duma espécie ímpar e bestial.
Meus amigos, eu vos saúdo.

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