quinta-feira, maio 10, 2007

 

Surpresa

Augusto olhou-a bem nos olhos, interrogando-a silenciosamente. Ela limitou-se a um pestanejar e a abrir bem os olhos depois, como que dizendo-lhe que algo de muito grave se passava ali.
Entrou e logo se acercou da “senhora”, que respirava com dificuldade.
Calmamente desabotoou-lhe o vestido azul que tina no corpo. Sem falar, indicou a janela a Cristina e logo esta a abriu.
Na sala reinava o mais absoluto silêncio. Mafalda parecia à beira de um ataque de nervos. Ildefonso e seus amigos estavam acabrunhados.
- Que se passa aqui, afinal? – perguntou o médico.
Ninguém ousou responder à sua pergunta. Foi então que a Ana Catarina se decidiu a intervir:
- Depreendo que seja o médico. Talvez o tal Augusto de que tanto falava o patife do Ildefonso?
- Assim me chamo, realmente. Mas, quem é e que faz aqui?
- É uma longa história da qual já dei conhecimento à dona da casa e a esta menina que, presumo, é sua noiva…
- Oficialmente ainda não é, mas penso pedir-lhe que case comigo.
Cristina corou de felicidade. Toda ela tremeu, de alto a baixo. Sentia-se a mais ditosa e esteve a ponto de soluçar, nada podendo dizer.
- Bem! Terminei o que vim fazer. Vou embora, porque devo apanhar o comboio nas Devesas e antes dele o autocarro que lá me leve. Devo seguir ainda hoje para Lisboa. Eles – apontou para todos – lhe contarão do que se trata. Aqui tem um cartão meu e poderá contactar-me se achar necessário. Tudo o que disse pode ser confirmado pela médica que me assiste. Talvez a conheça. Trata-se da dra. Adelaide N. Conhece? Ainda bem, disse ao aceno dele. Pode falar com a sua colega. Há apenas dois dias que morreu uma vítima da perfídia do Ildefonso: tratava-se de um tal Ernesto Silva. Ele, e apontou para o filho da “senhora”, lhe contará tudo o resto. Boa tarde.
E saiu, batendo a porta atrás de si. Foi então que, um pouco surpreendentemente, a “senhora” conseguiu articular algumas palavras:
- Ildefonso – pronunciou debilmente – diz-me que nada disto é verdade; diz-me que ela mentiu, essa Ana Catarina…
- Não mãe. É tudo verdade. Estou condenado, assim como estes amigos e a Mafalda, à morte. Não há nada a fazer. Os vírus tomaram conta de nós. A vida na capital não é vivida como por aqui…
- Queres contar-me o que se passa, Ildefonso, em nome da nossa velha amizade? Lembra-te que somos “irmãos”, pediu o Augusto.
- Da minha boca, “irmão”, só ouvirás a verdade. Vou contar-te tudo para que possas ficar ao corrente da minha desgraça. Foi por isso que apressei a minha vinda a Canidelo. Mas, contar-te-ei tudo a sós. Queres vir até ao meu quarto?

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?