domingo, maio 06, 2007

 

Recuperação



O semblante da “senhora” obscureceu-se. Uma sombra passou pelos seus olhos, mas já o Ildefonso tomara a palavra.
Falou de tudo, de Lisboa, onde estudava, das grandes tendências cada vez mais liberais da capital.
Depois sonhou em voz alta, falou da esperança, em reivindicações, em direitos.
Cristina não entendia muito bem o que ele dizia, mas dava-lhe imensa razão. A mãe não percebia absolutamente nada, mas não lhe dava nenhuma.
Uma nobre não pode pensar assim. Disso tinha a certeza.
Ou ela se enganava muito ou tinham sido assim uns brados iguais de revolta, uma semelhante afirmação de direitos, que custou a prisão a muitos.
Ela detestava a plebe, e estava tudo dito. Resolveu mudar o rumo à conversa.
- Ora diz-me lá. Então pensas casar-te em breve com a…
- Mafalda, mãe.
- …pois, Mafalda. E que faz ela na vida? Também estuda medicina, como tu?
- Se tudo correr bem, minha mãe, terá dois engenheiros na família em Junho. Quer eu quer a Mafalda, como estes amigos que me acompanharam, estamos em engenharia civil. Inscrever-nos-emos na Ordem dos engenheiros e construiremos casas e pontes, entre tantas outras estruturas… Já há muitos doutores…
- Mas…
- Eu sei, mãe. Queria um médico na família. Ainda não será desta. Talvez venha a ter um neto, ou neta, que queira ser médico. Mas eu não. Então? Aprovas a Mafalda?
- …Hum. Se assim o desejas, que seja bem-vinda à família. Minha querida – dirigindo-se a Mafalda – fale-me de si; de onde é, quem é a sua família… vá, não tenha preconceitos.

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