sábado, maio 12, 2007

 

O telefonema



Sabia de antemão que o crivariam de perguntas e por isso, decidido, disse apenas:
- Vou fazer um telefonema e volto já. Aguardem-me que já venho.
E saiu. Sabia que a “senhora” não tinha telefone em casa. Dirigiu-se a uma loja de electrónica que havia ali perto.
Já lá dentro pediu, com toda a educação, se lhe seria permitido fazer uma chamada pêra Lisboa.
- Claro que sim, senhor doutor. Faça de conta que está em sua casa.
Marcou o número e esperou que lhe respondessem.
- Estou? Sim. Seria possível falar com a doutora Adelaide N? Ah!, és tu. Fala o Augusto Vieira. Lembras-te? Como tens passado, minha amiga? Claro que estou bem de saúde. E tu? Estás ocupada? Não. Precisava apenas de te fazer umas perguntas sobre uma doente tua que me visitou recentemente. Não. Está descansada que não quer mudar de médico. Tem até muita confiança em ti. Claro que te digo o seu nome. Ana Catarina… sim. É verdade. Esteve aqui em Canidelo. Gaia, claro.
…………………………………………………………………………………………….
- Não, minha amiga. Não é Porto. É Gaia. C A N I D E L O. Sim. Falou-me do seu estado de saúde. Sim. Contou-me que o diagnóstico é grave. Sim… Estou a ver… Sim. De qualquer maneira deverá ser tentado o tratamento. Claro. Não. Ainda não tenho o telefone instalado no consultório. Logo que o tenha ligo-te a dar-te o número. Entretanto, se não te importas, irei ligando a dar-te conhecimento do caso. Claro que sim. Obrigado e até breve.
Quis pagar mas não lho permitiu o empregado. “Então, senhor doutor? Claro que tenho todo o gosto em que use o meu telefone. Os amigos são para as ocasiões. Se precisar dos seus cuidados irei bater-lhe à porta. Ora essa…”
O Augusto saiu pensativo e regressou a casa da “senhora”, indo encontrar as duas mulheres ansiosas.

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