quinta-feira, maio 03, 2007

 

O encontro



Cristina, após ligeira hesitação, bateu à porta do consultório do Augusto. Demorou um minuto, se tanto, e abriu-se a porta. Uma voz forte e agradável fez-se ouvir: “Entre!”
E ela entrou. Ainda no limiar da entrada, ele viu-a e de imediato correu para ela, abraçando-a carinhosamente, beijando-a como costumava fazer em pequeno. Mas logo se afastou e sentou-se no seu posto. Começava a escurecer e acendiam-se já algumas estrelas.
- Desculpa, Cristina. Não pude conter-me.
- Oh! Não te preocupes; tive prazer quando me abraçaste.
Calaram-se ambos, mas dentro deles pairava o mesmo pensamento: “aquele garoto era agora um homem de verdade”; “aquela rapariguinha era hoje uma mulher apetecível”.
- Queres que te trate por tu ou por senhor doutor?
- Nem fales nisso. Continuo a ser o mesmo “Gusto” de sempre. E tu a “Tina” que tanto me arreliava às vezes.
Ambos riram francamente.
- Que te traz por cá? Não me digas que estás doente…
- Nada disso. Trata-se da minha tia – a “senhora” – que afirma que o velho dr. Sobral já nada sabe e quer ver se arranjas um remédio que a cure de todas as suas maleitas.
- Ah! Compreendo. Vou vê-la e pregar-lhe um susto de mil diabos. Vou dizer-lhe que terei de a operar…
Ambos riram e logo se puseram a caminho para a vetusta casa onde sempre morou a “senhora”.
Pelo caminho, foram pondo a conversa em dia e davam mostras de se entenderem perfeitamente. Ali havia amor pela certa
- Minha senhora…
- Obrigado por ter vindo tão depressa, Augusto Vieira. Folgo que tenha sido delicado para com a velha “senhora” de Canidelo.
Ele não respondeu à estocada: à chamada urgente da mãe de um amigo e tia da Cristina, não podia responder de outra forma.
Cristina respirou enfim: e teve vontade de lhe saltar ao pescoço, como fazia em criança sempre que ele a defendia.
A vontade que a tia sentiu foi diferente, pois bem percebeu que aquilo devia ser uma das tais superioridades da plebe que se permite ter ideias, mas resolveu afogar o seu despeito, e durante o tempo que se seguiu, mais de meia hora, só falou na sua doença.

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