terça-feira, maio 22, 2007

 

Desmascarado


- Olha, olha. Deu o fanico à velha – resmungou o indivíduo ao vê-la estendida no soalho. É a tua mãe, refinado mentiroso e bissexual consagrado? Tens pena dela? Olha que a culpa é só tua. Vais pagar-me o que me deves, ou vais pedir-me que espere até vires a casa? T’ás em casa. Toca a pagar-me. - Tratava-se dum tipo a quem costumavam tratar por Xauter Águas.
Ildefonso debruçara-se sobre a mãe, mas o Augusto, que entretanto se tinha aproximado, levou-a até ao velho sofá, deitando-a sobre ele. Viu que nada de especial se passava com a “senhora”. Precisava apenas de descansar um bocado.
- Quanto lhe devo?, perguntou Ildefonso ao tal Xauter Águas.
- Tanto quanto aqui está escrito. A despesa da viagem já está incluída. Nem te cobro os juros, “filhinho”.
Pegou num papel e estendeu-o a Ildefonso.
- Ena. Nunca pensei que fosse tanto. Três mil euros? De quê?
- Lê, se quiseres. Está tudo descrito, parcela por parcela. Cama. Mesa, roupa lavada e ainda aqueles empréstimos que te fiz várias vezes. Quando faltava a carta da mamã com o cheque… eh-eh-eh… As bebedeiras que apanhavas nem te deixavam fazer contas…
- Não tenho agora essa verba.
- Vou passar-lhe um cheque, disse o Augusto. Depois faremos contas.
Passou o cheque e entregou-o ao tal Xauter Águas, que se foi embora de seguida.
- Agora, “irmão”, vais dizer-me se ainda há mais gente que pode vir bater-te à porta a pedir que pagues. Já agora, responde-me a uma pergunta: porque usaste tanto nome falso? Não deixas de me surpreender. Só espero que este indivíduo não vá badalar por aí… Canidelo é uma terra pequena e tudo se sabe rapidamente.
- Queres tomar nota? Ou melhor. Meteu a mão num bolso do casaco e retirou um papel que lhe estendeu e onde figuravam todos os nomes de guerra” por si usados. Aqui tens. Guardei-o para me lembrar de todos eles sempre que necessário.
Augusto, abrindo o papel olhou-o abismado.



Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?