terça-feira, maio 08, 2007

 

Batem à porta



Estava a Mafalda para começar a falar quando subitamente batem à porta. Adivinhou-se ser um bater de raiva.
Todos viraram a cara na sua direcção. Cristina, levantando-se, foi até ela e abriu-a. Do lado de fora encontrava-se uma rapariga aparentemente da sua idade.
- É aqui que mora o desavergonhado do Ildefonso?
- Sim! Mas… quem é a senhora?
- Posso entrar? Tenho algo de muito importante a dizer e não deve ser dito daqui. Olá… vejo que te antecipaste, grande patife.
A “senhora” e todos os amigos que haviam acompanhado o Ildefonso, desde o Bartolomeu, Joaquim, Magalhães, Abílio e Mafalda sobretudo, olharam o Ildefonso de modo interrogativo.
- Ana Catarina” Não posso crer que me tenhas seguido até aqui. Como pudeste?
- Pensavas livrar-te de mim assim? E fez estalar dois dedos da sua mão direita.
A “senhora” ficou prostrada na cadeira. Estava lívida e adivinhava que algo de grave se passava entre seu filho e aquela recém-chegada, que ele tratava por Ana Catarina, que, sem mais delongas e empurrando para um lado a apática Cristina, entrou na sala.
- O que aqui me traz é uma missão de saúde. O Ildefonso contraiu uma forte virose e não poderá casar-se com ninguém. Deverá manter o celibato até à hora da sua morte. Foi por esse motivo que abandonou a medicina e foi para engenharia. É a menina a sua nova noiva? Já…
- Sim… respondeu surdamente Mafalda.
- Não passa de um mentiroso e de um safardana. Estou em tratamento por sua causa. Andou numa “rica” vida, esse “menino”. A senhora deve ser a sua mãe. A menina a sua noiva. È a sua prima? Falava de si e dizia que casaria com um médico, um tal Augusto Vieira. Vocês, rapazes, são como ele. E também estão todos infectados. Todos vocês. Nunca soube esconder a sua bissexualidade. Não passa de um depravado e de um imoral.
A “senhora” desmaiou e a Mafalda ficou sem gota de sangue. Estava prestes a desfalecer. Cristina estava sem fala. Os podres do Ildefonso estavam a descobertos.
- Anda lá, diz alguma coisa. Não penses que por estares em tua casa, em Canidelo, ficas encoberto. Vais pagá-las todas. Não passas de uma vergonha sobre duas pernas. És uma fraude. Não vales nada.
Ildefonso deixou-se afundar no sofá. Seus amigos pareciam estátuas de cera.
O silêncio que se seguiu foi quebrado por novo bater à porta. Uma vez mais a Cristina foi abri-la.
Ali estava o Augusto Vieira, que sorriu, feliz, ao vê-la. E de imediato se apercebeu que algo de grave se passava naquela sala que tão bem conhecia desde criança.

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