sábado, abril 28, 2007

 

A sobrinha da "senhora"



- Achas que devo chamar o médico? – perguntou a “senhora” dirigindo-se abruptamente à sobrinha de molde a fazê-la falar.
Cristina estremeceu como se do guarda-loiça que fitava tivessem caído as chícaras de porcelana azul das Caldas.
- Tia?
- Credo, rapariga. Leva isto ao Advogado e diz à Indógina que o assado que preparou tem muita pimenta. Nesta casa não há consideração com o estômago dos que sofrem. E, segundos mais tarde, exclamou: Santo Deus, pequena, pareces feita de silêncio. Canso-me a falar e tu, nem resposta.
A rapariga sorriu:
- A tia ainda não disse nada.
- Não? Essa é boa… Parece-te que a minha saúde não é um assunto importante?
- A tia tem o seu médico, ele é que sabe…
- Médico, médico – resmungou a “senhora” megera, feliz por poder descarregar o seu rancor – Esse velho tolo do Dr. Sobral já não acerta com o meu mal. Farto-me de tomar remédios e estou sempre na mesma.
- Talvez a idade tenha influência – disse Cristina para não ficar calada.
Idade! Naturalmente quem é velho não melhora. Adoece, engole pílulas e morre. Não sei de nada mais atrevido que a mocidade de hoje. Mas com tudo isto ainda não respondeste à minha pergunta.
- Faça como lhe parecer melhor, tia. Se o Dr. Sobral já não serve, vá a outro.
- Vou? Não! Ele que venha cá. Pensei nesse rapazote que chegou há pouco. Talvez saiba alguma coisa, embora filho de gente humilde…
É evidente que a “senhora” se referia ao filho das relações escondidas havidas entre a senhora Rio Tintense e o Penetra. Tal como ela mesma - a “senhora” – também aquela tinha sido infiel ao marido, a quem chamavam “o Cegueta”.

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