quinta-feira, março 29, 2007

 

Ei-los que partem...

Ei-los que partem novos e velhos
Buscar a sorte noutras paragens
Noutras paragens, entre outros povos,
Ei-los que partem velhos e novos.

Ei-los que partem, olhos molhados
Coração triste, a saca às costas
Esperança em riste, sonhos dourados
Ei-los que partem, olhos molhados.

Virão um dia, ricos ou não
Contando histórias lá de longe
Onde o suor se fez pão
Virão um dia, ricos ou não.
Virão um dia, ou não...

Nos idos da década de 70 do século passado, deu-nos Manuel Freire com este seu poema, um retracto muito objectivo e cristalino da triste e pobre realidade portuguesa.
Essa realidade, a de então, era a da partida dos nossos conterrâneos para outras paragens, onde pudessem granjear o sustento e o futuro dos seus. Gente humilde, trabalhadora, na esmagadora maioria dos casos sem qualquer qualificação profissional, que deu a outras nações o que de melhor poderia dar, o seu incansável labor.
De uma maneira geral essa dádiva foi recompensada. Aos que regressaram, a maioria, foram-lhes prodigalizadas reformas e outras compensações, que os faz encarar a vida com algum conforto. Aos que decidiram adoptar essas paragens como nova pátria, e atente-se que o decidiram por variadíssimas razões, só me resta dizer que continuam a ser dos melhores embaixadores que este Portugal poderia ter.

É triste, é mais que lamentável ter de se ser confrontado, em pleno século XXI, com mensagens do tipo das veiculadas por um determinado partido (?) de extrema-direita radical e xenófoba. Tais afirmações só poderiam ter sido paridas por quem tem tanto de inteligência como de cabelo.

Ontem, por força de todas as circunstâncias que então se verificavam, fomos nós que partimos, e eu pergunto; Onde estavam estes energúmenos? Porque não exigiram o imediato regresso a casa dos nossos emigrantes?
Hoje, apesar de termos perto de 2 milhões de portugueses espalhados por esse mundo fora, é revoltante ter de assistir a tal infâmia.

Triste desígnio o deste meu povo, por albergar tamanha vilanagem.

Comments:
Bonita canção que ouvi associada a um filme (cujo título desconheço!) sobre a sangria da Pátria que ocorreu sobretudo entre 1950 e 1973/74! E sei que os há que não voltam não!
 
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