quarta-feira, janeiro 17, 2007

 

A votação

Entre as personalidades que iam ser votadas com o título insigne de cidadãos portugueses, figurava Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal.
Pelo seu empenho na criação da nação, da sua independência, votaria nele de olhos fechados.
Ao que parece e segundo tive oportunidade de ler em mais que um sítio, já que sigo as notícias do meu país, também o nome de Salazar foi bastante votado. Não é de admirar que, juntamente com Álvaro Cunhal seja um dos mais votados.
O primeiro, Salazar, pela negativa da sua política de repressão, de ditadura, de constante humilhação infligida aos portugueses; o segundo pela sua luta aberta contra todas as políticas do primeiro e mesmo depois do 25 de Abril de 1974.
Quanto a Álvaro Cunhal, e referentemente à Revolução dos Cravos, acontecera-lhe, como a tantos outros, passar do entusiasmo doutrinário dos primeiros tempos à perplexidade, à desconfiança e, em certos aspectos, à reprovação pura e simples do novo caminho que se seguia.
Antes de mais nada, o novo rumo horrorizava o inimigo dos tiranos.
Era difícil a este ardente idealista convencer-se que esses verdugos das liberdades, da igualdade entre o povo, se arvoravam também em arautos da liberdade que despontava, admitir que a sociedade nova que a muito custo se modelava tinha qualquer coisa de comum com o estado racional desejado pela filosofia kantiana.
Surgiram as reacções dos burgueses bem pensantes e dos capitalistas encapotados, homens que nunca estiveram preparados para a liberdade, considerando-a um abuso.
Não era de estranhar, pois, que mais importante que dar uma nova Constituição que protegesse os seus direitos.
Aqueles a quem abertamente chamava de reaccionários, de monopolistas e latifundiários, recusavam, já então, qualquer reforma sob pretexto da imaturidade do povo. Imaturidade que eles próprios tinham causado, juntamente com o seu pouco menos que “deus” de Santa Comba.
Daí que não seja de admirar que a votação dos meus compatriotas no país tenha decorrido da forma como correu.
O nome de Salazar destoa no meio de tantos nomes de pessoas de bem, de verdadeiros democratas e de lutadores pelos direitos humanos num país que parece estar a esquecê-los de novo

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