segunda-feira, janeiro 15, 2007

 

A vela na janela



A história daquela senhora é das mais simples.
Quando jovem enamorou-se de um que julgava poeta, mascarado, que de poesia nada percebia, mas, pelo contrário, conhecia muito bem a arte do disfarce.
Um dia, abordado por uma cigana, que com olhos ardentes e uma voz vibrante lhe lê a sina, quase o colocava em sarilhos.
Situação bastante banal no país, mas a imaginação dele deu à aventura um vago sabor a mistério que tornou mais vivo o fascínio da desconhecida e que incendiou o seu coração.
Mas, voltemos, pois, à senhora, que nada possui de misterioso.
É do conhecimento geral que aquela jovem, descendente de uma família de aristocratas falidos, habituada a considerar o corpo como único capital, não sente qualquer escrúpulo em coleccionar apaixonados, em pedir presentes, em exigir luxo e riqueza.Apaixonado por ela, o nosso disfarçado prontifica-se a satisfazer todos os seus desejos e conseguir dinheiro pela única maneira que conhece bem: bufar aos quatro ventos e fazer dívidas sobre dívidas, sujeitando-se às ordens superiores – bufar cada vez mais e sempre – ganhou, portanto o gosto.
A beldade aceita, torna-se cada vez mais exigente, ao mesmo tempo que vai abrindo a porta do seu apartamento a um endinheirado morador em Gaia.
Para evitar encontros embaraçosos, a jovem descobriu um meio simples e eficaz: uma vela acesa e facilmente visível para que chegasse, significava que ela estava ocupada e não podia, de momento, receber, mas indicava também a um outro apaixonado que o caminho, dentro de momentos curtos estava livre.
A jovem foi envelhecendo, porque a idade não perdoa, e um dia surge-lhe um “Confrade” que a pede em casamento. Tornou-se na conhecida Madame La Confradesse que, no mais estrito dever de mulher acompanhou o já marido para terras distantes da então sua, indo instalar-se na capital, segundo informações fornecidas mais tarde.
Et voilá!

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?