domingo, janeiro 07, 2007

 

Perguntar não ofende...

“Quem é o Qim Andrade? – perguntei a Madame La Confradesse – se não é indiscrição perguntar”.
Ela ia responder-me quando tivemos de nos separar, devido à turba que passava, e pareceu-me notar-lhe um ar pensativo.
“Para quê mentir-lhe? – disse ela – estendendo-me a mão como que para um passeio.
“O Joaquim Andrade é um pobre homem com quem eu estou muito comprometida”.
Para mim, isto não era novidade, mas fez-me o efeito de uma notícia inesperada, porque eu ainda não tinha estabelecido a relação entre ela e uma senhora a sério e séria.
Enfim, fiquei perturbado, esqueci-me e sinto-me cada vez mais só em terra tão distante da minha.
De vez em quando dedico a Madame La Confradesse um concerto de harpa-e-dança que parece encantá-la, embora e sempre por desgraça eu tome essas descargas musicais íntimas por descargas de trovoada que abunda em Besançon.
É natural, quando uma infelicidade, ou algo de terrível nos surpreende no meio do prazer, que fiquemos mais fortemente impressionados do que o normal, em parte por causa do contraste, que de modo tão vivo se faz sentir, e em parte ou mais ainda porque os nossos sentidos, já abertos à sensibilidade, mais depressa que recebem uma impressão.
A estas razões devo subscrever as figuras estranhas que vi várias senhoras começarem a fazer.
Madame La Confradesse jamais quis ir para sua casa, dizendo sofrer de solidão. Um belo dia confessou:
“Eu era, antes da primeira vez, a mais assustada das donzelas de Canidelo. No entanto, naquele dia fiz-me valente e fui então possuída. Depois…Oh meu caro! Depois foi sempre a aviar, tornei-me corajosa e verdadeira apreciadora das boas coisas da vida, saltando de cama em cama, de companheiro em companheiro. Tive mil amantes!”
É de louvar tão franca e corajosa confissão. Não achais meus amigos?

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