sábado, janeiro 13, 2007

 

Cheiro a pobreza

Como para Salazar a pobreza foi fiel companhia – a do povo – ao longo de quase toda a sua vida, também hoje nunca deixou de se sentir o que antigamente se chamava o “odor da pobreza”.
A poeira acre, a louça suja, o vestuário usado, o cheiro a álcool e a tabaco…
Dizia Salazar, com aquela voz muito peculiar: “Portugal pode ser um país rico e próspero se os portugueses assim quiserem”. Ora, como no seu tempo os portugueses não tinham voto na matéria, o mesmo é dizer que não tinham o direito ao voto, calavam-se.
Aproveitando-se do seu silêncio – “quem cala consente” – Salazar distribuía pelos abastados e ricos o que pertencia aos pobres, que calavam. Ouve-se hoje dizer:
“Éramos pobres: o nosso jantar, quando o havia, era extremamente frugal, e o seu condimento principal consistia na nossa bóia disposição: nós o preparávamos, o que nem era difícil, pois a maior parte das vezes não passava de uma sopa. O vinho, como dizia um dos braços direitos do ditador – cardeal cerejeira - «dava de comer a dois milhões de portugueses».
Pensando em tudo isso, começo a perguntar-me se hoje as coisas melhoraram no meu país, lá longe.
Estudo e divirto-me. E esta vida, de estudo e boémia, durará até ao momento em que me passem um diploma e regresse – ou não – ao meu torrão natal.
Lembro-me de um dito antigo, também do tempo de Salazar – ouvido tantas vezes lá em casa – dito pelas gentes da oposição:
“Os pobres e infelizes dos pensionistas têm uma sede limitada, e com o vinho matam a fome e nem se lembram da sua independência e qualidade de humanos”.
Acontecia, aliás, que por vezes aparecia alguém de certa nomeada a tentar esclarecer os menos lúcidos.
Aí surgiam, de imediato, os bufos e os pides, a quem, de certo modo rendo a minha homenagem: “Ó bufos do passado, que no tacho deram brado, na boémia e no cifrão,,,!”, perguntado ao Qim como se sente com a sua – se algum dia a teve – consciência.
Bons baisers de besançon

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