sexta-feira, janeiro 12, 2007

 

Bocas abertas

Alto, esguio, testa larga e olhar penetrante, com a pele do rosto pejada de barbas e bigode grisalhos, o Qim Andrade que conheci na minha recente deslocação a Canidelo, para seu azar, era cognominado, na sua terra, como o tiranete de Canidelo.
Dizem as “más línguas” canidelenses que nem sempre usou aquelas barbas, que andava completamente rapado mas que, a dada altura – e tudo indica a data pós 25 de Abril – o infeliz se viu obrigado a recorrer ao crescimento da pelugem na fronha, crescimento abundante, para esconder a sua “cor” natural.
Já quanto ao cabelo, é natural, e se ficou enfarinhado, como as barbas e bigode, isso deve-se aos desgostos sofridos por altura do ano de 1974. Os caracóis são, portanto, naturais. Até poderia usar uma trança, que ninguém se importava com tal facto.
Dizem ainda as más bocas abertas de Canidelo, que o Qim Andrade chegou a demonstrar uma certa vocação de pastor e que, mais tarde queria ser médico, mas como era um profundo autocrata igual a todos os seus iguais, desistiu de tal ideia.
É absolutamente um ser que gosta de exercer o poder absoluto e desmedido. Subiu ao “trono” aos dezasseis anos, tendo reinado até hoje com nomes fictícios. Gosta de viver no fausto e inventa jantares e tertúlias, festas e rodeado de música e músicos, de arquitectos e pintores, de jornalistas e padres…
Contam ainda tais bocas, que se abrem, que de vez em quando gosta de tomar ares de mecenas e de jardinar. Que se ente orgulhoso de tudo quanto fez e faz, mesmo sabendo ser contra todas as vontades e que adora exprimir-se com linguagem inacessível à maioria e também, por vezes, adora arvorar-se em “pai” da sua comunidade canidelense, mostrando um esgar que pretende sorriso benevolente para os que considera seus súbditos.

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