domingo, dezembro 31, 2006

 

A máscara de Canidelo



Com o passo apressado, declamando como num tribunal – como advogado dramático – o Quim abra caminho, afasta a cortina e grita para as janelas, agarra noutros mascarados que passeiam, ameaça todos com um processo, ora conta uma longa história ridícula que se teria passado com ele, ora tenta fazer uma especificação precisa.
Descompõe as mulheres por causa da sua cicisbeia, as jovens por causa dos namorados, consulta um livro que traz consigo, produz documentos, e tudo isso com uma voz que pretende penetrante e língua ágil.
Procura confundir e envergonhar todos. Quando se julga que vai parar, recomeça outra vez do princípio; quando se pensa que se vai embora, volta atrás; há um ou outro que ele deixa passar sem dizer nada, e há um outro que já passou e a quem ele tenta agarrar-se; mas se um “colega” vem ao seu encontro, então a maluqueira atinge o ponto máximo.
Mas não “conseguem” conservar muito tempo a atenção do público sempre curioso; a impressão mais louca é logo absorvida pela quantidade e pela diversidade de personalidades existentes em si mesmo.
Os principais requisitos destes disfarces são que tudo nele seja na verdade antiquado. Roupa de bom corte e bom tecido, comprado no El Corte Inglês de Gaia, em tons austeros.
As máscara não é de rosto inteiro e é sem bochechas e de olhos pequenos e mostra uma cabeleira de caracóis estranhos e grisalhos.

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