terça-feira, dezembro 19, 2006

 

Mais tarde...



O Barbosa dirigiu-se depois a um homem que estivera a falar sobre a caridade, sozinho, uma hora inteira, numa grande assembleia. O orador, de nome Augusto Vieira, olhando-o de revés, disse:
«Que vindes fazer, aqui? Será pela boa causa?»
Como sempre se imaginou adivinho e filósofo, o Vasili das couves Barbosa, respondeu:
“Não há efeito sem causa – disse modestamente - , tudo se encadeia necessariamente e tudo está organizado no bom sentido. Foi necessário que me visse afastado do Zézé Nalgas, que passasse mil trabalhos e humilhações até, e é preciso que eu mendigue o meu pão, até que “possa ganhar eu mesmo. Tudo isto não podia acontecer de outra maneira.”
Masai Mara – não era outro o orador – disse-lhe num tom de comiseração, não sem um pico de ironia: «Meu amigo – começou – acreditais que o papa é o anticristo?»
“Nunca tal ouvi dizer – responde o Vasili das couves Barbosa – mas, quer ele o seja, quer não, eu preciso de comer”.
«Tu não mereces comer – disse Masai Mara – desanda, patife, desanda miserável, não me aproximes da tua vida.»
Mas, Cristina Coelho, a mulher do orador, tendo espreitado à janela e visto um homem a duvidar de que o papa era o anticristo, despejou-lhe pela cabeça, um penico cheio… Ó Céus!, a que ponto pode chegar o zelo religioso, nas mulheres.
Um homem que não tinha sido baptizado, um bom anabaptista chamado Manuel Silva, viu de que maneira cruel e ignominiosa tratavam um “irmão” seu, um ser de dois pés, sem penas, senhor de uma alma.
Levou-o para sua casa, deu-lhe pão e cerveja, ofereceu-lhe dois euros e quis mesmo ensiná-lo a trabalhar na sua oficina de bate-chapa.
O Barbosa, prosternando-se quase diante dele, exclamou:
“Bem me tinha dito o Magalhães que tudo corre o melhor possível neste mundo, uma vez que me sinto infinitamente mais tocado pela vossa extrema generosidade do que pela dureza daquele senhor de sobretudo negro e da senhora sua esposa”.
No dia seguinte, enquanto passeava, encontrou um mendigo, coberto de pústulas, olhos mortos, a ponta do nariz comida, a boca torta, os dentes escuros, falando pela garganta, atormentado por tosse violenta e cuspindo um dente a cada esforço.
Era o Mexilhão, como lhe chamavam todos os passantes.

PS: De Besançon, com amizade para todos os residentes do PQ e desde já desejo a todos um Bom natal e um Novo Ano cheio de tudo de Bom, mesmo as melhoras do Barbosa. Não poderei, com pesar meu, ir passar as Festas com a família. Este ano não é possível, já que em questões de “guitas” estou quase como o Vasili das couves Barbosa.

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?