sexta-feira, dezembro 29, 2006

 

La fenêtre, madame



Quem olhe de fora por numa janela aberta nunca vê tantas coisas como quem olha uma janela fechada.
Não há coisa mais profunda, misteriosa, fecunda, tenebrosa, perturbante, que uma janela iluminada por uma vela.
Quanto se possa ver à luz do sol sempre será de menor interesse que quanto decorra atrás de uma vidraça.
Dentro desse buraco escuro ou luminoso, a vida vive, sonha e sofre.
Para além das ondas de telhados, distingo uma mulher madura e pérfida, já com rugas, e umas barbas grisalhas, quase esquelética, sempre debruçada para ou sobre qualquer coisa; nunca sai.
Com o seu rosto, o seu vestuário, a sua atitude, com quase nada, reconstruí a história dessa mulher, ou antes, a sua espécie de lenda e, por vezes, fico a pensar para com meus botões. “Se por ventura fosse um pobre velhote, ser-me-ia igualmente fácil reconstruí-la”, até porque Canidelo fica em Gaia e apesar de agora estar em Besançon, continuo a ter familiares e amigos em Gaia, ali bem perto de Canidelo.
Deito-me sempre tranquilo, orgulhoso de ter vivido e sofrido em outros que não eu, embora jovem e de boa saúde, apesar do frio que aqui se faz sentir.
Meus amigos dir-me-ão então, talvez: “Tens a certeza de que a lenda é verdadeira? Que é o mesmo mascarado de sempre?” Evidentemente que tenho essa certeza, assim como a tenho de que, como secretário da JF de Canidelo soube esconder a tal mensagem anónima que afirma ter a Junta recebido, em denúncia do seu péssimo comportamento civil e social.
Nada me pode importar que seja uma realidade colocada fora de mim, se ela o ajuda a viver mesquinhamente e no anonimato, se eu continuo a ser o que sou e quem sou?
Dirijo estas linhas a uma tal Madame La Confradesse sabendo, no entanto, tratar-se dele, o tal Joaquim António Dias Andrade?
Nunca me senti faminto de amor ou auto-estima, e, compreensão, mais que reconfortante.
Em contrapartida, vós, Madame, emanais de vós um verdadeiro miasma, já que estais mais que pútrida por dentro e por fora.
Aconselho-vos, madame, a fechar e manter fechada a janela, para que a vizinhança possa pelo menos respirar ar mais puro que com a vossa presença.

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