quinta-feira, dezembro 28, 2006

 

Embriagai-vos Madame



Há que sempre estar ébrio. Tal é a solução, a única. Para não sentir o atroz fardo do Tempo, que vos quebranta os ombros e vos empurra para a terra, urge que vos embriagueis sem trégua.
Com quê? Com vinho, com alienações à vossa vontade, “Madame La Confradesse”. Mas, embriagai-vos.
E se, por vezes, nos degraus do vosso lar, na verde relva de um fosso, na triste solidão do vosso quarto, porventura despertais com a ebriedade já diminuída ou anulada, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio de parede, que faz “cucu” dlim-dlom apenas ou tic-tac, a tudo quanto gira, a tudo o que conta, a tudo o que fala, perguntai que horas são: e o vento e a vaga, a estrela, a ave, o relógio, tudo vos responderá: “são horas de estar ébria”. Tempo, embriagai-vos sem parança! Com vinho, com alienações a vossa virtude, à vossa vontade!”
Porque o ar que respirais, “Madame La Confradesse” mostra-se pouco interessado da vossa companhia e desde muito novinha que sois incompreendida.
Permiti-me, Madame, a contemplação da vossa sublime imagem. Mostrai-me uma fotografia vossa, fazei de mim um jovem feliz. Ah! Já vos noto e vejo no vosso olhar, na vossa fronte esse não sei quê de preocupante fatal que aparta a simpatia e que, não sei porquê, excitava a minha, até ao ponto de, por uns momentos, ter a bizarra impressão de porventura possuir uma prima ignorada por mim próprio.
Ide com Deus, “Madame La Confradesse”, que eu, com Deus e os Anjos, fico-me por Besançon, tendo a esperança de que vos reconcilieis convosco própria e com toda a humanidade, de que pareceis divorciada.Antes isso, Madame, que gravitardes a caminho da desonra e do fracasso pleno.

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