domingo, novembro 26, 2006

 

És uma besta!

Certa noite, já tarde, seguia sozinho ao volante do meu carro. A coisa não estava fácil, com uma camada de geada aí duns 3 centímetros de espessura. Tentava apenas manter o carro virado para a frente.
Um tipo que me seguia num jipe começou a apontar-me os máximos. Ia devagar e mesmo assim abrandei, já que pensei haver algum perigo iminente pela frente ou alguma coisa errada com o meu carro.
Ele colocou-se a meu lado e começou a gesticular como se tivesse coisa muito importante a dizer-me. Parei o carro e abri a janela do lado do passageiro.
Um verdadeiro chorrilho de insultos cuspidos para a atmosfera gelada. Logo começou a tratar-me por tu: “Não sabes usar os piscas?”, seguindo-se a segunda parte do tal chorrilho, agora de asneiras a propósito da minha condução – nunca bati ou fui multado – da minha família e da minha história sexual. E continuou a vociferar, mesmo quando fechei o vidro e me afastei.
As pessoas rudes multiplicam-se e, cada vez tropeçamos mais nelas, em cada vez mais lugares.
Logo que pôde, buzinando como se levasse mil diabos com ele, ultrapassou-me a lá foi ele armado em “corredor”.
Uns quilómetros mais à frente, lá estava o jipe estampado, meio desfeito, podendo ver que o condutor, a besta, estava debruçada sobre o volante, escorrendo-lhe pela comissura dos lábios um fio de sangue.
Mais recentemente, um amigo meu foi às compras, pela primeira vez desde que partira um tornozelo. Procurando equilibrar-se nas canadianas, tentava escolher um artigo do expositor quando se viu apertado e depois empurrado. Era uma mulher a querer afastá-lo do mesmo expositor: “Desculpe, mas acho que cabemos os dois”, disse esse meu amigo.
A mulher lançou-lhe um olhar feroz e respondeu: “saia-me da frente se não quer que lhe parta a outra perna”.
Chamada a gerente, afirmou nada poder fazer, a menos que houvesse confronto físico.
Alguns, daqueles que se imaginam poderosos e que passaram testes de honorabilidade, metem-se nas esferas do poder, pelo menos apregoam-no aos quatro ventos, numa demonstração de que o poder pode cair em mãos rudes e algumas muito sujas de verdade.
Verdadeiros rufias ou embriões imaginam-se “senhores dignos”, quando não passam daquilo que realmente são.
Uma coisa é preciso dizer em coro: “És, sois umas bestas!”

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