domingo, novembro 26, 2006

 

O Senhor Silva

O senhor Silva pendurou um saco de rede com um metro de cumprimento no cinto de pesos do seu fato de mergulho de borracha negra. À volta do barco de mergulho, que balouçava suavemente sob as águas calmas, brilhava uma Lua quase cheia. E pensou: “Vou apanhar umas lagostas”, sorrindo feliz.
Era um homem afável, sempre de sorriso aberto nos lábios, idade indefinida, que regularmente mergulhava naquelas águas. Estava excitado, se assim se pode dizer, com a ideia dum outro mergulhador seu rival, estar num barco mais além A competição adivinhava-se renhida, apesar de…, mas isso não interessa para o caso.
Enquanto se preparava para o mergulho, os pensamentos do Sr. Silva recuaram até uma velha fotografia de “família”, na qual vestia um insuflável com uma espécie de snorkel e máscara, tendo na mão uma lagosta de plástico. Já nessa altura se mostrava ansioso por apanhar lagostas.
Verificou a garrafa de ar. Tudo estava OK e deu ordem a si mesmo de mergulhar. Evidentemente que não queria, como o outro, desaparecer de vista… E lá foi ele água a abaixo, deixando apenas uma linha luminosa de bolhas e brilho do bastão amarrado à sua própria garrafa, assinalando a sua descida até ao fundo lodoso.
Quando atingiu a profundidade desejada, dando poderosos golpes das suas barbatanas, desapareceu momentaneamente – na escuridão submarina.
Levava consigo um pequeno computador de mergulho, que balouçava no seu pescoço.
Ali estavam as lagostas desejadas. Apontou-lhes a lanterna e elas fugiram apressadamente; quer dizer, assustaram-se um pouco e vendo tratar-se do Sr. Silva, logo se tranquilizaram e deixaram apanhar e pacificamente meter no saco.
Pegou numa delas com todo o cuidado para não deixar que seus longos espinhos furassem as luvas, voltando-se no espaço submarino esgueirou-se rumo ao barco que o esperava fielmente.
Aquela lagosta, que levava na mão direita, oferecê-la-ia ao seu rival, mas só depois de apanhar mais. Voltando a mergulhar, entrou num buraco bastante pequeno para a sua envergadura. E viu-se à nora, chegando a formular o pedido, depois confessado: Ajuda-me Pai! Não consigo sair”.
Lá se desenvencilhou e de imediato voltou ao barco. Mais tarde, durante a noite, sentiu aguilhoadas dolorosas no cotovelo. Até podia tratar-se da presença de bolhas de azoto. Tudo correu pelo melhor, não tendo escapado a um tratamentozinho. E hoje, o Sr. Silva lá vai vivendo e lá se vai recordando e afirma para si mesmo que, apesar de tudo, valeu bem o susto vivido, até porque ainda pode regalar-se com as lagostas que então apanhou.

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