terça-feira, novembro 28, 2006

 

O melhor do Evaristo

“Confissão inédita”

«Sou uma pessoa que chora facilmente. Uma vez, desatei a chorar quando desceu a cortina após um espectáculo de “O Lago do Cisne”.
Ainda hoje, fico com um nó na garganta sempre que me recordo de certos acontecimentos. Eu até sou uma pessoa que se comove bastante quando vê alguém no seu melhor, homens ou mulheres que não têm necessidade de ser pessoas notáveis, a realizar importante prezas.
Dou o seguinte exemplo: há alguns anos, uma noite, fui convidado a jantar com os amigos. O granizo caía e quando me dirigia, com minha esposa, para o local do encontro, onde brilhava uma luz convidativa, reparei num carro estacionado à beira do passeio e que ia sair. Imediatamente adiante encontrava-se outro carro que aguardava o lugar para estacionar. Mas antes que tivesse tempo de o fazer, apareceu um terceiro, por trás, que se enfiou no dito espaço. “Isto não se faz!”, pensei….
Enquanto minha mulher se dirigia para o luxuoso restaurante dum não menos luxuoso hotel, dirigi-me ao pouco civilizado condutor para lhe pregar um sermão.
- Este lugar é daquele senhor – disse eu, apontando para o condutor que estava adiante e olhava para trás furioso. Julgo que, nessa altura, pensei estar a praticar uma boa acção e recordo que me sentia muito masculino no meu impermeável novo.
- Vá-se lá f…. e meta-se na sua vida!, - respondeu o indivíduo.
Ora, a conversa aqueceu, até que o homem saiu do carro. Como era enorme. Até as barbas se eriçaram no meu rosto. Antes que tivesse tempo de me “identificar”, agarrou-me e atirou-me contra o capôt do seu carro como se eu fosse um boneco de trapos. O granizo batia-me na cara, molhando-me as barbas.
Estava estupefacto. A hesitação fez com que levasse um murro nos queixos e o sangue escorreu-me do lábio rachado. Pude, finalmente mostrar-lhe o “crachá”, o que o pôs a tremer de alto a baixo.
Pediu desculpa, quase implorou, dizendo estar envergonhado. Tinha perdido o emprego naquele dia. De nada lhe valeu, já que merecia um bom correctivo, e foi parar com os costados à “prisa”, onde pagou bem cara a ousadia. Ora essa…
Depois de encerrar o episódio, fiquei uns instantes sozinho e senti os olhos inundarem-se de lágrimas». Imaginem que até eu, Eurico de Sousa me sinto comovido.
Que se lhe há-de fazer? O Evaristo é mesmo isto.

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