sexta-feira, setembro 22, 2006

 

A grande aventura

A chuva caída durante a noite refrescara o tempo.
Ele caminhava com as mãos metidas nos bolsos dum ligeiro impermeável que vestira à cautela.
Com ou sem chuva, sempre gostara até muito de Gaia.
Mas, de há um certo tempo para cá, era um amor que se estiolava. Começava a parecer-lhe sinistra, a Avenida perfeitamente horrível, a multidão do fim da tarde bovina e ele próprio...
Parou em frente a uma montra e contemplou-se.
"Pobre tipo", disse silenciosamente para o seu reflexo.
Pelo canto do olho procurou ver se conhecia algum dos que passavam.
Pareceu mais tranquilo vendo que ninguém lhe ligava a menor importância, mas apenas aparentemente, já que lá por dentro se mordia; então ele não devia ser o centro das atenções?
Sentia que alguém o seguia. Voltou a andar. "Como me terão localizado? Estou lixado".
Havia ainda muitas jogadas a fazer... talvez... e fora do campo do Canidelo.
De si para si voltou a pensar: "Se fosse esperto, largavas tudo!"
Revolveu um pouco a ideia. Não! Isso nunca. Precisava de exercitar os dedos sobre as teclas do computador. Era como pão para a boca continuar a maldizer, a multiplicar-se, a comentar-se a si mesmo, a elogiar-se como aliás sempre fizera noutras paragens.
Procurava descontrais, sem muito sucesso. Sentia a impressão de ter o estômago cheio de pedregulhos...
Era coisa nova. Até então apenas sentira uma espécie de tensão à flor dos nervos.
Desceu até ao jardim do Morro e encostou a nuca às costas do banco onde se sentou e pensou: "Tenho de recuperar". Mas não era fácil. Nada o tinha preparado para o que vivia há dias.
(Continua...)

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